quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

do porquê

A parada de ônibus de Brasília é teórica como a própria cidade. Mais ainda, retórica. Caso passe o baú, caso caiba mais um, caso estejamos no lugar certo na hora certa, parte do itinerário. Um ponto de interrogação.

De concreto como a cidade, que em condições ideais e irreais de temperatura e pressão, seria habitada por cidadãos-modelo que cuidariam do futuro e do presente da nação, brincariam debaixo dos pilotis com a família, sem muros nem grades, e não precisariam de carro. Pegariam o transporte público de qualquer lugar para qualquer lugar do plano piloto, de asa a asa, eixo a eixo, a qualquer hora do dia ou da noite.

Restam algumas, ruínas históricas, mijadas, pontos de outra coisa, camas cobertas com janela e até biblioteca, desativadas ou não, nos eixinhos, leste dois, oeste três, por aí, aos poucos substituídas pelas de vidro, caras e sem bancos, coisa fina, padrão europeu.

Foi mal aí, Lúcio, Oscar, a coisa não saiu conforme o planejado, mas estamos conformados com o progresso, a ordem, os monumentos, os satélites, a rodoviária, a política, os governadores, os automóveis, a seca, os concursos e a linha do horizonte. Desculpem-nos por termos estragado o plano, por não sermos robôs, por pisarmos na grama. Desculpem os mais velhos por achar que poderiam ficar por aí depois de terem construído a cidade no meio da poeira, 50 anos de trabalho em 5. Até o camarada Juscelino ainda espera o ônibus que não passou, de mãos abanando, lá em cima do memorial.

Mas não era sobre isso que eu ia falar, não escolhemos a parada por nenhum motivo especial.

2 comentários:

:J Borre disse...

Só reclamo de uma coisa nesse texto: parece que só se pega ônibus no Plano Piloto... Qual é? E as cidades (ditas satélites)? Afinal, são os moradores delas que mais utilizam essa "beleza" de transporte público do DF...

ê. disse...

verdade, é que aí estava falando do plano "original" da cidade, que é utópico e não previa tanta gente nem cidade etc.